Inferno
de August Strindberg; Tradução: Aníbal Fernandes
Grátis
Sobre o livro
August Strindberg [1849-1912, escritor e dramaturgo sueco], chegou a Inferno coleccionando sinais inexplicáveis
que o perturbaram em Paris, em Saxen e em Lund, com eles fazendo um cerco às trivialidades do quotidiano. Esgotou-se
num esforço esplendorosamente fracassado para confrontar as suas dúvidas com a inocência tranquila da realidade. Mas
construiu um espectáculo que impressiona. A sua manipulação de sinais efémeros marca com dureza um destino supostamente
regido por Potências que lhe não poupam dores nem o martírio da expiação. Para Strindberg estas Potências —
imagem de um deus que ele não consegue definir — incitam-no a um refúgio na Ciência, mas por ironia encontrará aí outra
vergasta que o incita a investir contra os homens; é um mundo de obsessões, com tréguas raras e curtas, derrotas sofridas
com um masoquismo que o humilha e destina ao sangrento desastre das relações humanas.
[da apresentação de Aníbal Fernandes]
O fogo do inferno é o desejo do êxito; as Potências despertam-no e consentem que os malditos vejam os seus votos realizados. Mas atingido o objectivo e realizados os anseios, tudo se revela destituído de valor e a vitória é nula! É tudo vaidade das vaidades, nada mais do que vaidade. Depois da primeira desilusão, as Potências sopram o fogo do desejo, da ambição; mas o que mais atormenta não é o apetite insaciado; é, antes, a cobiça satisfeita que inspira o nojo de tudo. O Demónio, esse, também padece infinitamente a pena porque obtém quanto deseja no instante em que deseja, e nada mais tem para gozar.