Doutor Pasavento
de Enrique Vila-Matas
Sobre o livro
O herói moral do escritor e doutor Pasavento é Robert Walser, do qual
admira a sua preocupação por passar desapercebido, a vida de bela
infelicidade que levou e a extrema repugnância que lhe provocavam o
poder e a grandeza literária. Perseguir o destino desse escritor significa
para Pasavento retirar-se do mundo, como prova a sua caligrafia que se
vai tornando cada vez mais microscópica e o leva a substituir o traço da
caneta pelo do lápis, porque sente que este se encontra mais próximo do
desaparecimento, do eclipse. «Não escrevo para ser fotografado», diz
ele em certa ocasião. Quer afastar-se, e um dia desaparece. Acredita
que vão investigar, que lhe há-de suceder o mesmo que aconteceu a
Agatha Christie quando a procuraram por toda a Inglaterra ao longo de
onze dias e acabaram por a encontrar. Mas ao doutor Pasavento
ninguém o procura, e pouco a pouco vai-se-lhe impondo esta verdade
simples: ninguém pensa nele.
Vamos vê-lo, então renunciar ao eu, à sua grandeza e à sua suposta
dignidade, ao ponto de acreditar que encarna por si só a história da
desaparição do sujeito no Ocidente. «O que eu quero é continuar a
existir sem ser molestado», diz o doutor Pasavento, e logo, de forma
contraditória, pergunta-se se será capaz de viver sem que ninguém se
lembre, nem sequer remotamente de que ele existe.
Maria José Oliveira, Público, Ípsilon «Enrique Vila-Matas volta a surpreender com o seu humor e amor à literatura.»
Expresso
«Aprofunda a reflexão ensaístico-ficcional sobre a própria literatura e o trabalho da escrita literária.»
Maria Fernanda Abreu, JL