Sobre o livro
Segundo o docente, investigador e também poeta Luís Adriano Carlos, Amadeu Batista, na sua poesia, "(...) exprime a dilaceração tumultuosa da consciência face à contradição quotidiana de quem habita níveis existenciais não comunicantes (...)".
A culminar 40 anos de actividade literária, a presente Antologia Pessoal reúne um conjunto de poemas escolhidos entre todos os livros que publiquei até 2022, praticamente todos eles esgotados, bem como alguns dispersos que foram dados à estampa em jornais, revista, livros colectivos e antologias. O critério de selecção, processualmente subjectivo, como é timbre de todas as Antologias, obedeceu, segundo a sequência cronológica em que os poemas foram editados, a uma contiguidade afectiva que presumo possa, ainda assim, oferecer uma visão abrangente do que escrevo.
No final de cada poema, ou conjunto de poemas, identifica-se a sua proveniência. Em alguns casos. Houve lugar a pequenos acertos de pormenor. Registam-se. Entretanto, alguns agradecimentos devidos: a todos os editores que, ao longo dos últimos quarenta anos, acolheram os meus originais; a todos os que, com sugestões, críticas, actos e (até mesmo) omissões, me estimularam ao trabalho; a todos os que escreveram sobre os meus livros e lhes acrescentaram vitalidade; a todos os meus leitores, termo de cumplicidade almejado.
«Corremos pela praia com a nossa nudez porque deixamos
algures os mantimentos escassos
de que a nossa tristeza se mantém.
Corremos pela praia e as mãos deslizam
para um cobertor lavado pelo mar,
o oiro magnífico, a distância
mais curta entre dois pontos. É de noite,
e corremos porque o tacto é uma promessa,
casam-se os búzios, conchas
azuis habitam o olhar, barcos,
homens que bebem a água como se fosse terra,
pequeninas sementes,
dissimulam a sede a que deus nos condena.»
As Passagens Secretas, 1982