Crónica das Greves dos Médicos em 1970 e 1971
de J. A. David de Morais
Grátis
Sobre o livro
Em 1970 e 1971, em pleno consulado de Marcello Caetano, a crise no sector da Saúde atingia proporções inéditas, levando à sublevação dos jovens médicos Internos, cujas greves mereceram a solidariedade dos demais médicos dos Hospitais Centrais, paralisando o seu funcionamento. O grave assunto chegaria à Assembleia Nacional pela voz do Prof. Miller Guerra, deputado da Ala Liberal e também Bastonário da Ordem dos Médicos, que apresentou a sua demissão ao Ministro da Saúde.
«A Assembleia Nacional e o País conhecem, menos bem do que deviam se houvesse liberdade de Imprensa, o que sucede nos hospitais centrais: a falta colectiva [dos médicos Internos] ao teste que finaliza o segundo ano do internato, a exoneração imediata dos médicos que faltaram [cerca de 300], o seu impedimento de entrada nos serviços hospitalares, a abstenção burocrático administrativa [greve] por solidariedade dos Internos dos outros anos, a ocupação das Direcções dos Hospitais por médicos do Exército [a chamada junta de coronéis]. As repercussões que tudo isto tem, teve e virá a ter dentro e fora das fronteiras são incalculáveis e deprimentes. A insubordinação dos médicos Internos é tão só o produto de uma longa acumulação de acontecimentos. A desorganização dos hospitais vem de longa data, agravando-se gradualmente e atingindo o ponto culminante nos últimos dois ou três anos. Visite-se essa espécie de campo de concentração que é o Banco do Hospital de S. José!.»
Extractos da Intervenção do Prof. Miller Guerra na Assembleia Nacional, em 9 de Dezembro de 1971.