Capital Social, Economia Social e Qualidade da Democracia em Portugal
de Conceição Pequito e Jorge de Sá
Sobre o livro
Se, tal como escreveu na Democracia na América, ainda na primeira metade do século XIX, Alexis de Tocqueville via nas associações dos Estados Unidos da América um meio de integração social e uma forma de sensibilização e preparação cívica para os assuntos públicos, também Robert Putnam, mais de cento e cinquenta anos depois, relacionava o associativismo com a democracia através do conceito de "capital social".
Uma sociedade é tanto mais vigorosa, quanto mais elevado for o seu stock de capital social, fonte e resultado de grupos de pessoas concretas organizadas horizontalmente - em cooperativas, mutualidades, associações culturais, recreativas ou assistenciais, fundações contribuindo positivamente para o bom desempenho das instituições democráticas. O quadro de mal-estar da democracia contemporânea, para o qual alertou Putnam em 2000 (lendo, então, os indícios de apatia, de indiferença e de desafeição face à política, o declínio da mobilização cívica e a crescente desconfiança e ceticismo em relação à atuação das instituições e atores políticos) não poderia levar em linha de conta o desenvolvimento de novas formas de participação política, menos convencionais, que, embora já então presentes, não eram tão visíveis como hoje, quinze anos depois.
Cidadãos "críticos", "assertivos" ou "indignados", partilhando juventude, elevada escolaridade e valores pós-materialistas, vieram colocar novos desafios à oferta política de que são expressão recente os resultados eleitorais na Grécia ou em Espanha. Se o conceito de "capital social" aparece ligado às condições inerentes ao bom funcionamento da democracia, colocando a ênfase na sociedade civil e nas condições da sua mobilização política, ele aparece igualmente associado à forma de equacionar a relação entre o Estado, a economia e a sociedade na provisão de bens sociais, num momento histórico marcado pela crise do Estado Social na Europa, que leva a equacionar a sua reconfiguração ou desmantelamento em resultado da atual crise económica e financeira.
Um debate que se tornou particularmente relevante em Portugal.