A Nuvem Prateada das Pessoas Graves
de Rui Costa
Sobre o livro
Rui Costa venceu o Prémio Daniel Faria 2005, com a primeira edição de A Nuvem Prateada das Pessoas Graves. Um livro humano que nos fala que «não somos um céu azul, a vida é feita de coisas diferentes». E esse é o material da sua escrita. As mãos são uma das evocações poéticas mais frequentes em A Nuvem Prateada das Pessoas Graves. Não só porque dão nome às três partes do livro, como estão presentes na maioria dos poemas, tornando-se, desta forma, num outro espelho da alma, muito mais fiel do que os olhos. «E possível fingir expressões, mas é impossível controlar as mãos. Elas revelam sempre mais do que esperamos», defende. Ao primeiro grupo de poemas, intitulado «As mãos no fermento da luz», Rui Costa aproxima-o de uma linguagem denotativa, mais ligada à ex¬periência e à memória. Enquanto que o segundo, «As mãos a bater na boca», situa-se no campo da linguagem conotativa, que recorre à metáfora e é mais ambígua. No entanto, é na «integração» deste dois mundos que se define a sua poesia, consubstan¬ciada na terceira parte do livro, «A contaminação das mãos», nomeadamente em Faca de Incêndio. Neste conjunto de fragmentos, Rui Costa procu¬rou cruzar «a tradição lírica no sentido de T. S. Eliot», de transformação do que já foi feito antes, com uma escrita mais aberta e porosa, «que surge num contexto de pós-modernidade». Mas longe do preconceito literário que faz do poeta «alguém que se serve de materiais que vai buscar a um plano superior e que depois, generosamente, partilha com as pessoas cá em baixo». Em A Nuvem Prateada das Pessoas Graves não há nada disso, apenas: «a ideia de que se pode ser grande sem precisar de ir ao céu»
Ricardo Duarte, JL