Sobre o livro
Quando pegam no jornal, muitos leitores vão com os olhos direitos ao cartoon. Lá diz o provérbio chinês: uma imagem vale mais que mil palavras. Neste caso, um simples desenho revela um acontecimento, de forma irónica e humorada. António, no "Expresso", Cid, em "O Independente", Maia, em a "Capital" e no "Semanário" e Vasco, no "Público", dispensam apresentações. Eles têm sido os mais assíduos e influentes cartoonistas desde o 25 de Abril, numa tradição de desenhadores da imprensa, que remonta a Bordalo, Leal da Câmara , Stuar, Abel Manta, Vilhena Uma dupla edição reúne, neste volume, com introdução de António Valdemar, 25 dos melhores cartoons de cada um destes quatro desenhadores, publicados na imprensa portuguesa desde o 25 de Abril (o outro volume, "CARTOONS DO ANO 1999, propõe os melhores cartoons dos mesmos autores, no ano de 1999, e tem uma introdução de António Barreto). Uma óptima ocasião para rememorar casos e protagonistas, imagens subtis, inteligentes, carregadas de humor, imagens que nos fizeram e fazem rir e pensar.
«Os 4 dos 25 acompanharam a transição para a democracia de uma sociedade conformista, de mediocridades frívolas, de um regime autoritário, habitado por fantasmas e no estertor da agonia "orgulhosamente só".
«Mas além do 25 de Abril e das alterações profundas que deram lugar a um Portugal diferente, - embora com uma classe política com os mesmos e com outros defeitos da anterior - os cartoonistas presentes neste livro também comentaram o que ocorreu no mundo: a "guerra das estrelas", o fundamentalismo islâmico, a "perestroika", a luta contra o "apartheid" e a discriminação racial. As contestações sindicais na Polónia, nos estaleiros de Gdansk, impulsionaram a derrocada da União Soviética e a queda do Muro de Berlim. Novas preocupações se acentuaram com a Comunidade Europeia, os desajustamentos de "Maastricht", a violência e a crueldade na Bósnia, a tortura e o morticínio em Timos-Leste.
«Tempo de novas calamidades: os resíduos tóxicos, a droga, a sida. Tempo de mudanças profundas no dia a dia: o computador, o telemóvel, o micro-ondas e os raios laser, o vídeo, o cartão multibanco e os computadores. Depois da confirmação de vaticínios de Júlio Verne no fim dos anos 60 com a chegada do Homem à Lua, as últimas décadas colocam-nos perante o universo da internet que também nos veio demonstrar que a "aldeia global" de McLuhan não é, afinal, uma utopia.
«Perdura nestas páginas a memória quase longínqua da intervenção activa de militares e civis, agitada por equívocos revolucionários, radicalismos utópicos, avanços de direita e divisões na esquerda. Curiosamente numerosos protagonistas desapareceram da ribalta. Hoje conseguem sobreviver graças a caricaturas e cartoons, entre os quais de deparam 25 dos 4, um olhar crítico não só do que se vê, mas do que se pensa enquanto vê.
«Uma coisa, porém, é certa: a sátira e o humor no desenho de Imprensa, que o 25 de Abril restituiu, ao prestígio da época áurea do séc. XIX e da I República, representou um contributo decisivo e uma tomada de consciência para as grandes questões nacionais e internacionais para repensar a democracia e construir um país novo.»
António Valdemar, na Introdução