Vida de Henrik Ibsen
de Alberto Savinio
Sobre o livro
Que sabemos nós do fundador da dramaturgia moderna? Quantos de nós assistiram já à representação de uma única peça que seja, escrita pelo dramaturgo mais representado de sempre (mais ainda que Shakespeare)?
Henrik Ibsen morreu em 1906. Nascido na Noruega, escrevia numa língua compreendida apenas por cerca de 4,5 milhões de pessoas. Contudo, ainda em sua vida, a obra dramática que escreveu e pôde ver nos palcos um pouco por toda a Europa, suscitou inflamadas críticas e apupos a par de elogios superlativos, provenientes de gente atenta aos avanços do mundo, como James Joyce, Rainer Marie Rilke, E.M. Forster ou Bernard Shaw, para nomear alguns. É sabido que a filha de Karl Marx aprendeu norueguês para poder ler Ibsen no original -- e este é apenas um dos episódios surpreendentes que acompanham o percurso da obra até hoje, exemplos do seu magnetismo universal. Portugal, porém, parece auto-excluído do universo: a edição (como a representação) da obra de Henrik Ibsen foi, por cá, tão diminuta quanto episódica, e é hoje praticamente inexistente.
Assinalando o centenário da morte de um dos maiores escritores de todos os tempos, e tentando atenuar, na medida do possível, este verdadeiro escândalo artístico e cultural, os Livros Cotovia lançam, no início de Maio, o primeiro de 4 volumes de peças de teatro de Henrik Ibsen, traduzidas do norueguês original. Trata-se de um projecto ambicioso, que será divulgado a seu tempo. Por ora, na expectativa de aguçar o interesse pelo grande dramaturgo, os Livros Cotovia colocam no mercado "Vida de Henrik Ibsen", escrita por outro grande das letras universais, Alberto Savinio.
Aqueles que lerem esta tua vida escrita por mim, dirão que da tua vida se diz pouco e se fazem muitas divagações. Porque não sabem. Não sabem que estas 'divagações' são, isso sim, as coisas que tu prometeste a ti mesmo dizer quando a morte te levou e que agora, finalmente, pudeste dizer por meu intermédio. Não me agradeças, Henrik: entre colegas devemos ajudar-nos. E agora adeus, Henrik: adeus, para já. Trato aqui de mais uns quantos assuntos e, depois, lá irei ter contigo. Onde quer que estejas. Mesmo no inexistente. Melhor, até, aí. Quando as pessoas se entendem, que importa inexistir?"
Alberto Savinio: escritor e pintor italiano (Atenas, 1891; Roma, 1952).