Revista de História da Sociedade e da Cultura N.º 13
Sobre o livro
Editorial
O reconhecimento mundial, em 2013, do património material e imaterial
de Coimbra, centrado no saber da sua Universidade e dos seus "colégios",
na sua arquitectura monumental e popular, na sua paisagem rural e urbana
profundamente moldada desde a Idade Média, no seu peculiar e propalado
modus vivendi… não surpreendeu o conhecedor e o amante de tal património.
Que convém estudá-lo e divulgá-lo mais, como se procede através de alguns
artigos inseridos no actual número da "Revista de História da Sociedade
e da Cultura", também merecerá a unanimidade. Contudo, não estamos a
defender, nem sequer a alimentar através da via do conhecimento, o autismo
da actuação e da afirmação da cidade universitária de Coimbra, já que,
directa ou indirectamente, a sua história está obrigatoriamente ecologizada
em espaços de escalas variáveis (o local, o regional, o nacional, o europeu,
o mundial) e em tempos ou diacronias de longa e longuíssima duração (desde
a Idade Média até ao século XX). Como outros artigos também sugerem.
Por definição, uma Universidade é uma instituição que investiga e
ensina à escala da universalidade, pelo que o processo de intelectualização,
embora brotando de uma realidade local, terá sempre tendência a escapar a
esse limes e a romper, até, com quaisquer fronteiras culturais e ideológicas.
Tal não significa porém, mesmo no caso de uma universidade tida por
clássica, que ela se desapegue do interesse regional e local. Antes pelo
contrário, e o "Centro de História da Sociedade e da Cultura" dá disto
mesmo exemplo ao desenvolver, desde há anos, um projecto de investigação
intitulado "História da Região Centro" [de Portugal].
8 Editorial
Nesta mesma linha de pensamento, ninguém ou quase ninguém ousará
contestar que, se uma universidade é um entreposto do saber adquirido ao
longo do tempo com especializações à escala mundial em algumas matérias
ou disciplinas, o acesso a tal reservatório deve estar, em primeiro lugar,
à disposição das comunidades humanas mais próximas. Só assim é que uma
universidade alcandorada a "Património Mundial" fará jus à universalidade,
terá o reconhecimento pleno, será adequadamente promovida e esperará ser
preservada pelos "seus".
João Marinho dos Santos
Ex-Coordenador Científico do Centro de História da Sociedade e da Cultura