Por Um Dia de Esperança
de Sérgio Peixoto
Sobre o livro
Não queria acreditar que estava a presenciar o verdadeiro significado do Jogo do Pau e a razão pela qual este fora criado. Parado junto à berma da vereda viu Mestre António chegar-se para o lado e ficar imóvel até ao último momento quando o homem que devia pesar noventa quilos ou mais saltou para a frente com o pau em riste ao ataque. Mas quando este parecia só ter um desfecho o velho Mestre baixou-se e o pau que segurava descreveu um movimento circular tão rápido que não se apercebeu do modo como o corpulento homem se dobrou e caiu de joelhos. Tão rapidamente como se baixara assim se levantou o Mestre que no mesmo movimento colocou a ponta do pau no pescoço do adversário falando pausadamente:
— É o último aviso que te faço porque da próxima vais directo para o Hospital de Santarém… mas se souber que voltas a bater num animal… é para a cova que vais!
Estava sem palavras para descrever o que acabara de assistir e o coração ainda lhe batia descompassado no peito mas quando olhou para Mestre António que continuava com a ponta do pau encostada ao pescoço do seu opositor este piscou-lhe o olho antes de voltar a falar:
— Já agora diz lá… entendeste o que eu disse?
O homem quis levantar-se mas a ponta do pau forçou-o a ficar de joelhos na sua frente:
— Pode crer que entendi Mestre… esta doeu muito… vou ter mais cuidado com os animais!
O homem agarrado à coxa esquerda e a coxear despediu-se regressando pelo caminho de onde viera mas ao passar pela burra agora mais calma e que antes agredira violentamente esta afastou-se dando-lhe passagem e Mestre António não perdeu a oportunidade de falar uma vez mais mas desta vez bem alto:
— És tão reles que nem os animais te querem por perto! Porque não arranjas um cão? Não andavas só e podias aprender alguma coisa!