Sobre o livro
Com "Os Espaços em Branco", Agustina Bessa-Luís encerra a trilogia "O Princípio da Incerteza", iniciada com "Jóia de Família" (Grande Prémio APE do Romance e Novela e transposto para o cinema por Manoel de Oliveira) e continuada com "A Alma dos Ricos". Os romances são independentes. No entanto, há personagens que se cruzam, ou vamos encontrá-las numa fase mais adiantada das suas vidas. Em "Os Espaços em Branco" regressa Camila, anjo-demónio, filha de vinhateiros do Douro arruinados, que casou rica com António Clara e, por morte deste, num incêndio numa discoteca, herdou a quinta do Salto da Senhora. Camila está agora casada de novo com o advogado Raul Almeida e tem dois filhos. Abandonou o Douro, foi para Lisboa, mais tarde para Paris, numa contínua divagação em busca de redenção e liberdade.
Num encontro com Gerge Steiner, Oppenheimar afirmou: "O que há de importante na poesia e na filosofia são os espaços em branco". Daí vem o título deste romance, onde Agustina aborda o problema da realidade, com ecos de Conrad e do seu "O Coração das Trevas". Numa escrita mais próxima da coloquialidade, Agustina dá-nos um magnífico retrato destes modernos tempos de incertezas, da "sexualidade triste" ao consumo nos centros comerciais, os sem-abrigo, os toxicodependentes, os imigrantes de leste, a fraude e a corrupção, os novos pobres e os novos ricos, cita poetas e ficcionistas, e não falta sequer um "ghostwriter". Como afirmou Arnaldo Saraiva na apresentação que fez de "Os Espaços em Branco", Agustina "tenta captar os sinais autênticos da vida. Por isso, lê-la, além de um prazer, é uma aprendizagem de nós mesmos, da sociedade portuguesa e do homem universal".