O Estranho Caso da Mulher Assanhada

Em Maio de 2003 eu e o meu querido amigo Emílio Peres conversámos pela última vez sobre as histórias que a imaginação me ia ditando. Entregou-me as três ou quatro que lhe tinha dado para ler manifestando o seu agrado e sugerindo-me a propósito que seria bom aproveitar o texto sobre o café que eu acabara de publicar na revista "Alimentação Humana" para incluir no meu livro seguinte. Perante a minha resistência, baseada no facto de se tratar de um texto demasiado científico onde proliferavam termos técnicos e considerações bioquímicas, desarmou-me dizendo que ninguém melhor do que eu o saberia limpar e transformar em prosa acessível ao comum dos mortais e fazer dele motivo de agrado para os leitores. Então, entre duas chávenas do seu chá preferido, prometi-lhe que iria tentar.
Não tivemos oportunidade de voltar a falar sobre esse assunto porque a doença o emurchecia a meus olhos ameaçando roubar-me para sempre o prazer da sua companhia, da sua amizade e do seu conselho. Porém, tal como lhe prometera, fiz a modificação que me pedira sem nunca ter tido coragem para lha dar a ler sabendo o esforço que faria para me ser agradável. Aqui fica, como pausa, como homenagem, como saudade.