Nota Sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos
de Simone Weil; Tradução: Manuel de Freitas
Grátis
Sobre o livro
Um pouco por todo o lado, a operação de tomar partido, de tomar posição pró ou contra, substituiu a operação do pensamento. Estamos perante uma lepra que teve origem nos meios políticos e que se estendeu à quase totalidade do pensamento. É duvidoso que se consiga remediar essa lepra se não começarmos pela supressão dos partidos.
Nesta brevíssima Nota sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos (escrita entre 1942 e 1943), Simone Weil vai bem além da mera provocação. Expondo as dinâmicas de poder e hierarquia que nascem no chamado espírito de partido, e assistindo ao triunfo generalizado da opinião sobre a verdade e às consequências do seguidismo e da propaganda em várias áreas da vida pública - do jornalismo à educação, das artes à religião -, Weil proclama que a verdadeira política, aquela que persegue o bem comum, só poderá existir quando os partidos saírem do caminho.
Esta noção de que «um partido é uma pequena igreja profana armada com a ameaça de excomunhão», oficialmente constituído para «matar nas almas o sentido da verdade e da justiça», arrasa as fundações em que assenta o nosso sistema político. Mas ressoa ainda hoje nos escombros das ilusões por ele fabricadas - abrindo brechas de pensamento individual, livre, a salvo de paixões colectivas.
Na simplicidade da Nota Sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos vislumbramos, antes de mais, uma inigualável fé no pensamento enquanto princípio libertador e emancipador do ser humano. Estávamos na época dos totalitarismos, os sistemas de partido único aniquilavam a possibilidade de debate, mas a rigidez interna dos próprios partidos impunha aos seus membros uma concordância acrítica intolerável numa sociedade livre. Weil afirma que o mecanismo de opressão típico dos partidos foi introduzido pela Igreja Católica, comparando-os a pequenas igrejas armadas «com a ameaça de excomunhão» (p. 59). O que fica por explicar é o lugar da proibição numa sociedade livre. As proibições a que o texto alude são conciliáveis com a liberdade reconhecida aos indivíduos para se organizarem como bem entendem?