Muros de Liberdade
As imagens esquecidas de Lisboa e o clamor de hoje
de Karl-Eckhard Carius e Viriato Soromenho-Marques
Sobre o livro
Até aos anos noventa podiam encontrar-se na paisagem urbana de Lisboa murais alusivos à ‘Revolução dos Cravos’ de 1974. Essas pinturas, e respectivos textos, que assinalavam a explosão revolucionária, foram entretanto tapadas ou eliminadas. Com o seu desaparecimento desvaneceram-se também os vestígios de uma utopia social. No entanto, a esperança num mundo melhor não se extingue, mesmo assumindo novos rostos e diferentes representações.
Os autores:
Bazon Brock, Daniel Oliveira, Eva Berendsen, Frieder Otto Wolf, Karl-Eckhard Carius, Lídia Jorge, Sahra Wagenknecht, Teresa Salema, Viriato Soromenho-Marques
“Este livro é sobre os muros onde se desenha a liberdade. São os muros de Lisboa, como amanhã poderão ser os muros de Paris ou de Berlim. O que me parece importante é ter consciência de que a gravidade da situação europeia é tal que o futuro dos europeus não pode ficar exclusivamente na mão de governos que, infelizmente, já mostraram a sua falta de competência quer para compreender, quer para combater a presente crise.
Os coordenadores e autores deste livro talvez tenham sido movidos por uma sabedoria profética. O tema dos Muros de Liberdade não se esgota na evocação de um passado de que nos podemos orgulhar. Ele antecipa, sobretudo, um futuro em que a liberdade tem de ser defendida, com coragem e determinação, por todos os cidadãos e povos da Europa. Só os Muros de Liberdade, erguidos pelos cidadãos, poderão impedir que a Europa volte a sofrer a experiência das fronteiras armadas e dos muros de opressão, ressuscitando os piores fantasmas da história europeia.”
Excerto da Introdução (Karl-Eckhard Carius e Viriato Soromenho-Marques):
“Este é um livro claramente esculpido pelo tempo. A sua raiz é longínqua. Começou nas ruas das cidades portuguesas, há perto de quatro décadas, percorridas por uma exaltação libertadora, por um entusiasmo cívico e participativo, que transformou um golpe militar contra uma ditadura no poder há 48 anos numa revolução democrática que se faria sentir em todo o mundo, da Grécia a Espanha, passando pelo Brasil e África do Sul.
Os acontecimentos da ‘Revolução dos Cravos’ de 25 de Abril de 1974 ficaram registados na arqueologia inquieta e mutável das ruas de Lisboa e de muitas outras cidades portuguesas. (…) As paredes foram a tela onde se projectou um impulso onírico de igualdade e justiça social. (…) O mundo prosseguiu o seu curso. Novas guerras e revoluções. Crises económicas e catástrofes ambientais sucederam-se. Contudo, as imagens das paredes de Lisboa, contendo a substância desse ‘sonho para diante’ (der Traum nach vorwärts) — que é a essência da utopia na magnífica definição de Ernst Bloch — jaziam numa memória inquieta, à espera do momento adequado para regressarem a essa dimensão temporal inebriante a que chamamos presente.
Depois de 2008, a história voltou a acelerar. (…) Dezenas de milhões de mulheres e homens foram arrancados pelo desemprego à sua segurança quotidiana. Mesmo nos países mais abastados, foram colocados nas filas dos indigentes e dos descartáveis (…).
Os muros de Lisboa [entretanto] transformaram-se na metonímia das paredes da Europa e do mundo, onde se pintam as cores hodiernas da angústia, mas também os símbolos da coragem e da esperança. A justiça e a liberdade são sempre aventuras colectivas.”