Ficções - Revista de Contos de Guerra
Sobre o livro
Este número temático da Ficções abre com o trepidante A Morte do Lidador, de Alexandre Herculano. O fronteiro de Beja faz noventa e cinco anos e apetece-lhe uma festa de aniversário diferente...Porque não, para variar, uma incursão por terras da mourama? Atmosfera bem diferente, esta declaradamente paródica, é a de Narrativa Sombria, Mais Sombrio Narrador, de Villiers de l ´Isle Adam, em tradução de Manuel Resende. Aqui, é a arte (de representar) um duelo e as fronteiras sempre móveis entre o teatro e a vida que estão em jogo. Isabel Pedro dos Santos traduziu o extraordinário Mary Postgate, de Rudyard Kipling, um conto forte, subterrâneo e imensamente sugestivo, de frustração e vingança. William Carlos Williams escreveu O Uso da Força, uma pequena pérola de pujança e reflexão sobre um momento, ao mesmo tempo banal e arquetípico, em que se tornam visíveis os paradoxos da necessidade do uso da força. O texto do escritor soviético Andrei Platónov, O Regresso, em tradução de António Pescada, descreve o canónico regresso do soldado a casa depois da guerra, para encontrar e estranhar a família que o estranha a ele. Mas a escrita de Platonov não tem mais nada de canónico: e a atenção ao pormenor significante, a comoção extrema com as coisas pequenas e a compaixão valeram-lhe a séria animosidade de Estaline. Graham Greene afunda-nos, em Os Destruidores (tradução de José Lima) num universo de pesadelo frio absolutamente real. O nosso José Martins Garcia, hoje muito injustamente desleixado, publicou em 1974 uma colecção de histórias sobre a guerra colonial Katafaraum é uma Nação. O conto Performance relata, com humor e rigor, o pesadelo de um homem que, chegado a um aquartelamento na selva, não tem cama onde dormir. E a Ficções termina com A Bengala de Mogno, a história de um "inválido de guerra", em tradução de José Lima, do italiano Giuseppe Pontiggia , autor de Vidas de Homens Não Ilustres.