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Sobre o livro
«Procópio é um indivíduo franzino e levemente careca. Tem pernas tortas e ligeiramente peludas. Ventre não muito proeminente. Há uma luta entre as calças e o ventre, que dá origem a um tique constante.
O amigo Luís é alto e magro, culto, com uma licenciatura em Letras e professor de Germânicas. Encontram-se habitualmente de tarde até ao jantar e Procópio gosta de contar algumas anedotas. Procópio tornou-se relativamente célebre quando no jornal da sua cidade escreveu um violento artigo contra o tratamento de touros nas touradas e contra os ferros que lhes eram espetados.
Recebeu uma série de cartas e de aplausos dos meios de comunicação social, mas nada publicava sem ouvir o sensato e culto amigo Luís.
Mas não se julgue que Procópio não assistia a touradas. Quando havia ferros espetados no touro, exclamava: ‘Que barbaridade!’. Ou virava as costas, protestando sempre.
Mas como qualquer português, vibrava com as pegas de caras ou de cernelha e não deixava de gabar o colorido de uma tourada à antiga portuguesa.
(…) foi notável a evolução do Procópio. A princípio dizia lugares comuns e, portanto, sem qualquer interesse. Talvez pelo convívio com o seu amigo Luís, foi evoluindo.»
In Joaquim Procópio
(Contos, Contas e Alguns Desabafos)