Escrito a Vermelho
de Albano Martins
Sobre o livro
Não lhe dirás
o nome, nem é preciso,
julgo eu. Basta que se saiba
que foi com o sangue
que sempre o escreveste. E bastará,
por isso, que leiam
os teus versos. Porque
em todos eles
está escrito a vermelho.
(…) nos mais de sessenta poemas deste livro, o que sobretudo se observa é que o "discurso" poético de Albano Martins denota essa coerência primordial de nas várias conotações da própria linguagem querer dizer que neste livro não deixa uma vez mais de reflectir a mesma imagem transfigurada do real e do sonho, porque "as palavras são ainda necessárias / para dizer a calcinada / lâmina do sangue". E na declarada consciência de muitos dos seus versos saber que possui "uma paleta a que faltam algumas cores" e as tintas de que se serve "são letras que não têm voz". Mas na prosseguida intenção de uma "arte floral" em que subjaz um certo desencanto ou o saber assumido de que "as coisas simples, / mesmo se de ornamento / apenas servem, dispensam / sempre o que é gratuito".
Serafim Ferreira