Canção Doce

Curioso como logo na primeira linha sabemos o final do livro, ainda assim, e cada vez mais próximos do final, mantemos a esperança de que não seja mesmo assim o desfecho daquelas crianças. Ainda estou a tentar digerir o que acabei de ler ... o final é dado de bandeja ao leitor porque a maior questão a que a autora se dedica a responder é o porquê: o que leva alguém a matar dois seres inocentes e indefesos? E eu, enquanto leitora, não consigo compreender. Por mais sofrimento que Louise, a ama, tenha passado, não compreendo. Mas, acima de tudo, não compreendo como podem os pais destas crianças terem sido tão negligentes, como fecharam os olhos a todos os sinais ... mantemos a esperança até ao fim, esperamos um outro desfecho, porque de cada vez que avançamos mais e mais na leitura, percebemos como tudo podia ter sido evitado, como o fim poderia ter sido completamente diferente. É por esta capacidade que a autora teve de me transportar para dentro da história com tamanha intensidade que lhe atribuo 5 estrelas.

Uma obra sublime, onde Leila Slimani consegue captar, de forma magistral, o lado mais sombrio da alma humana. A forma irónica mas também contundente que a autora retrata a história de uma família que poderia ser também a nossa. O que estarão dispostas a fazer duas mulheres para preservar a família que cada uma delas acha ser sua por direito? Brilhante e perturbador.

Uma ficção magistralmente escrita em que a autora nas primeiras páginas do livro nos desvenda o final. A " Canção Doce proporciona uma leitura comovente e compulsiva onde o leitor luta sempre por um desfecho diferente do que a autora inicialmente propõe. No enredo desta narrativa há duas personagens femininas com uma densidade profunda, apesar de serem completamente distintas estão "unidas" pelo mesmo objectivo, ambas querem uma família (uma quer manter a sua, a outra quer roubar uma). Perturbador mas simplesmente perfeito e de leitura obrigatória.

O que tira Canção Doce de uma mera categoria de um “bom suspense” é a crítica social, com um toque de ironia, que permeia a narrativa e que foi muito bem abordada pela jovem escritora franco-marroquina. É o conflito interno de uma mãe que não quer abrir mão de sua carreira profissional e que recorre a ajuda de babysitter, mas que sofre todos os dias com o estigma da mãe ausente.

Se o leitor sobreviver à primeira linha, é possível que, após esse primeiro impacto violento, não consiga afastar-se do romance até ao fim. A cena inaugural arrepia e é de uma sordidez raramente lida. Toda a narrativa nos conduz à descoberta do porquê e do como, pois já sabemos o que aconteceu. A tragédia é anunciada claramente, para que o leitor vá à procura do móbil, da oportunidade e das circunstâncias que rodeiam o crime hediondo, o qual dá o mote para o início da narração. Creio que poucas vezes terei lido algo tão cruamente exposto desde a primeira página.