Biofagia
de Pedro Sena-Lino
Sobre o livro
Pedro Sena-Lino mantém-se impermeável à linguagem chã dos seus companheiros e para além disso, baralha a sua descendência, aproximando-se de um tom litúrgico desesperado e conflituoso, convergindo para uma religiosidade que abandona e transforma, à semelhança de Daniel Faria: «fiz do livro um corpo bíblico de mim/ e do Deus vulgar por minha causa/ penetrei o corpo à esquina do calvário/ e Jerusalém nem por isso ficou presa a minha língua» (pág. 35). O poeta derroga a percepção do quotidiano e tenta recompor a memória da infância. Sena-Lino adensa as imagens que atravessam como «flashes» velozes o corpo do poema: «o lençol caía pela primeira vez/ eram as primeiras mãos do dia a carne/ no branco de uma pureza líquida» (pág. 15).