Billy Wilder

No filme biográfico de Richard Attenborough, Chaplin (1992), surge uma cena curiosa que iria ressoar em muitos cineastas que iam para a América vindos do estrangeiro. Douglas Fairbanks recebeu a visita de agentes governamentais que investigavam os comportamentos supostamente subversivos de Chaplin. Fairbanks avisa o amigo com delicadeza, dizendo: "Nunca compreendeste este país". Chaplin encolhe os ombros e diz: "No fundo é um bom país". Fairbanks troça um pouco e corrige-o: "É um bom país por cima". O que Fairbanks compreende e o que Chaplin parece confundir - a diferença entre a forma como os Americanos se vêem e como de fato são - tornou-se para o escritor-realizador Billy Wilder uma tensão saudável que originou alguns dos filmes mais admirados de sempre. A sensibilidade europeia de Wilder misturou a sua terra natal de adoção com a moralidade pouco ortodoxa do marginal yankee, permitindo-lhe explorar de forma cósmica e dramática os enganos que os humanos inflingem uns aos outros e a si próprios. Essa tensão saudável geralmente salva os filmes de Wilder dos extremos do cinismo e do sentimentalismo. Num famoso ensaio sobre Wilder, Stephen Farber escreve: "A principal dádiva de Wilder aos filmes americanos é a inteligência". Esta inteligência equilibra os filmes de Wilder entre o corrosivo e o piegas e muitas vezes faz surgir ironias surpreendentes, mudanças de enredo e um amor pelo paradoxo.