Aventuras de Diófanes
Sobre o livro
Edição crítica de Maria de Santa-Cruz
Aventuras de Diófanes é um livro que enuncia os sintomas sem nomear as doenças que denuncia (o absolutismo, a ignorância, o atraso na agricultura, comércio e indústria, a falta de ética, as grandes desigualdades, a escravatura...). Os primeiros desses sintomas são-nos sugeridos pelo tipo de linguagem que pretende a clareza na opacidade: opacidade no discurso, nas relações com outros discursos, Antigos ou contemporâneos da Europa das Luzes; opacidade entre o romanesco e a situação real de enunciação, tão ocultada; dissimulação das figuras históricas, contratos de secretismo das personagens, duplicidade dos seus nomes e funções na errância. E, na narrativa, o secreto objecto, em demanda do qual se movimentam as personagens. O leitor actual talvez possa, apenas, diagnosticar a morbidez do conjunto, compreender semelhanças com o que ainda se passa no séc. XXI, ou, simplesmente, recordar a Língua Portuguesa mais antiga, por vezes preciosa, hoje dissimulada pela facilidade demagógica que nos mantém no engano e nos faz regredir a uma língua titubeante, diminuindo cada vez mais o grande património materno. Aconselhado pelo "Prólogo", o "Leitor prudente" deve lembrar que "esta obra é de mulher", a primeira a publicar um livro em Portugal.
Máximas de Aventuras de Diófanes
Não resplandece em todas as mulheres a luz brilhante das ciências, porque eles ocupam as aulas em que não teriam lugar se elas as frequentassem...
Não oprimam os pobres com a cobrança dos tributos, pois é maior a culpa de roubá-los que o mérito de socorrê-los.