As Vésperas do Leviathan
Instituições e Poder Político em Portugal no Século XVII
de António Manuel Hespanha
Sobre o livro
Depois de uma limitada edição de autor, reproduzindo integralmente o texto apresentado em provas académicas, surge agora, em português, uma edição deste meu livro, com carácter mais definitivo e, sobretudo, dirigida a um público mais vasto.
Trata-se, substancialmente, da versão portuguesa da edição espanhola de 1989, a qual, por sua vez, resultara de uma reelaboração do texto original, acrescentando-lhe algum capítulo novo e podando muitos detalhes exigidos pela natureza do trabalho original ou apenas interessantes para um público português.
Sem voltar agora à extensão e pormenor do texto inicial - mas também sem abandonar algumas das novidades que tinham aparecido na edição castelhana - retoma-se algo do que aí se tinha omitido. Nomeadamente, procede-se a uma discrição mais fina da malha político-administrativa portuguesa, assim como se incluem dados de natureza estatística que tinham sido sacrificados. Ao mesmo tempo, melhora-se as ilustrações cartográficas.
O resultado aproxima-se bastante de algo que creio fazer falta na bibliografia portuguesa: um panorama detalhado das instituições político-administrativas portuguesas num século que me parece ser, ao mesmo tempo, um período de estabilização das aquisições do anterior e, ao mesmo tempo, a base durável do que se vai passar daí para a frente.
A estratégia da elaboração deste novo texto foi a de atingir o grande público da comunidade historiográfica, sem fazer, no entanto, grande economia, quer das questões teóricas e metodológicas subjacentes, quer de uma referência precisa ás fontes normativas. Isto porque, se as primeiras permitem fundar bem a investigação, as segundas permitem prossegui-la com segurança. Eu próprio a tenho prosseguido, em artigos e intervenções diversas, de que, no entanto, aqui se não dá conta, para não obliterar a datação do trabalho. De qualquer modo, aqui fica o aviso de que, quanto a alguns temas tratados, já alguma água correu sob as pontes, uma da minha, outra de outros.
Uma obra, como o leitor saberá, é um produto cuja recepção o autor mal controla e raramente pode prever. Esta não foi uma excepção. Alguns anos depois de a ter lançado neste mundo, posso fazer um balanço da sorte que ela teve, quer em Portugal, quer no estrangeiro, onde chegou sobretudo através da edição castelhana. Fui convidado por duas vezes a fazê-lo por escrito. Uma vez, em resposta a uma recensão de uma grande e velho amigo (Ler história, 15 [1989], 167-170); outra, a convite de uma revista (Scienza & politica, 5[1991], 105-110), que inclui em cada número uma auto-recensão ("Heautontimorumenos"), de umaobra que a redacção considera marcante. Achei oportuno publicar aqui, à maneira de epílogo, estes dois textos. Por eles o leitor terá uma ideia de como encaro agora o que escrevi há um bom par de anos.
Publico esta versão com o gosto natural de quem vê uma coisa sua ganhar o apreço dos leitores. Mas faço-o também pensando nos companheiros de trabalho, colegas ou alunos, para quem este livro pode ter utilidade. Dedico-o justamente aos meus alunos. Eles merecem isso, não só pelo colorido que têm emprestado à minha vida, mas também porque são eles, nolens volens (*), terão que ler, porventura a contragosto e sofridamente, esta minha prosa.
Lisboa, Verão de 1992