As Atribulações de Jacques Bonhomme
de Telmo Marçal
Sobre o livro
O primeiro contacto com a prosa eficiente e económica, directa, de Telmo Marçal introduz-nos de, forma imediata, nas regras do mundo em que viemos cair: Estamos realmente na jaula de fera encurralada, mas eis que, afinal, somos nós essa fera.(…)Há, no entanto, um motivo legítimo para entrarmos assim incautos: não temos por hábito encontrar este tipo de prosa esta forma de pensarmos o mundo, na nossa literatura portuguesa. (…) Somos perfeitos na caricatura mordaz. Mas quando se trata de construir mundos racionais, ainda que fechados e claustrofóbicos como os que aqui encontrarão, de imaginar uma alternativa ao nosso presente ou mesmo ao passado histórico idolatrado por este povo (ainda que não passe de uma versão expurgada dos pecados cometidos), quando, afinal, nos negam o romance das coisas não temos grande experiência… A nossa ficção científica, quando se manifesta, apropria-se normalmente de universos alheios que encontrara nas leituras dos romances estrangeiros; quando em raras ocasiões se aventura no caminho da especulação social, fá-lo timidamente ou assente em abordagens subjectivas ou puramente pessoais. (…) em Telmo Marçal a opressão é total, implacável, e não há forma de escapar à intensidade ao que o momento presente nos impede de olhar para o futuro e nos força a sobreviver, a não ser pela ocasional ironia. Ao ser composto por contos , e não uma visão única, conseguimos regressar em busca da ansiada golfada de ar.(…) A sensação de no-time, no-place não surge apenas como um artifício literário, mas como uma necessidade.(…) Atribuir-lhes uma data e uma referenciação geográfica seria retirar-lhes a universalidade das observações. No que lemos encontramos o espelho de nós todos." Luís Filipe Silva