Artistas Unidos N.ºs 21 e 22
Os teatros que vêm da Europa
Sobre o livro
Foram reuniões longas, duras, angustiantes, estas demoradíssimas reuniões do AET, a última das quais nos escritórios que tinham sido os de Strehler, no velho Piccolo Teatro de Via Rovello.
Nas primeiras, ainda veio comigo o Francisco Frazão, depois de Bratislava deixou de poder, fiquei sozinho com centenas de páginas fotocopiadas, dezenas e dezenas de peças discutidas, lidas, anotadas, cansaço, consulta de fichas, traduções que chegavam ou não chegavam, decisões que se prolongavam, gostos comuns que se descobriam, foram discussões lentas e longas, reuniões intermináveis e argumentadas com rigor, precisão ou até ligeireza, só quem já esteve em júris sabe como tudo depende de um sopro, sabe-se lá, por mais intensa que se queira a justeza.
Votámos nos textos certos? Conseguimos ler realmente aquilo que queríamos? Conseguimos descobrir? Falámos tanto, lemos tanto…
A ideia deste número surgiu-nos em Milão, na Primavera de 2007, estávamos cansados, a acabar a selecção total, víamos o desgosto dos nossos parceiros em não termos aceite algumas das suas propostas, levantava-se nalguns a sombra da tristeza perante o consensual, receava-se a uniformização do gosto.
E comprometemo-nos a editar um número para o qual cada membro da comissão apostava num autor que ainda não fora apoiado por três países, ou que nós, os de Portugal, não tínhamos escolhido (porquê?, não sei… há sempre um sabor amargo nas votações - e se deixámos passar ao lado o verdadeiro texto?).
Este é assim um número muito especial desta revista: são textos muito diferentes uns dos outros, muito contemporâneos ou menos, textos que nos surpreendem, que nos interrogam, vindos de mundos diferentes, teatros diversos, realidades e escritas antagónicas, textos perplexos.
Mas se não queremos uma doutrina, este é felizmente um número paradoxal.
É este o teatro que se faz nesta Europa?