Amor e Utopias
de Mário Leston-Bandeira
Sobre o livro
Costumava por vezes frequentar festas com alguma música e dança, mas sobretudo com copos, conversa e jogos de sedução ou simplesmente de engate.
Foi numa dessas festas que conheci a Mariana. Era uma festa no atelier dum pintor, o espaço era enorme e havia corredores, quartos, recantos onde se podia ficar em tête-à-tête. (…) Meti-me nos copos a fundo (…)
Fiquei meio grog, precisava duma pausa, afastei-me para um canto onde havia um sofá e estendi-me ao comprido. Alguém tinha deixado lá um cobertor, enrolei-me nele, adormeci. Julguei sonhar, um corpo feminino veio passado pouco tempo juntar-se ao meu, cheirava bem, aconchegou-se por baixo do cobertor, abraçou-me, ficou muito quieta agarrada a mim, deve ter adormecido. Deixei-me ficar, mergulhei outra vez no sono.
Ouvi vozes. Alguém dizia para a minha companheira de sofá:
- O que é que estás a fazer? Vamos embora para casa, estou farta desta merda. Quem é esse gajo?
- Não sei, é um tipo giro, eu estava com frio, aninhei-me com ele.
- Vamos embora, se quiseres, trá-lo também, a minha cama é suficientemente grande para três, ele dorme connosco. Pode ser divertido.
Mariana era a minha companheira de sofá, a amiga dela era a Manuela. Ambas eram advogadas. Nessa noite, pela primeira e única vez dormimos todos juntos. Não houve divertimento. Despimo-nos, enfiámo-nos na cama, a Mariana chegou-se por detrás de mim, sentia o calor do seu corpo. Emanava dela um odor especial, doce e provocante, um perfume envolvente. Enquanto aspirava as magias do seu sono tranquilo e ouvia a sua respiração, adormeci. Deviam ser cinco da matina.