A Lição do Sonâmbulo
de Frederico Pedreira
Grátis
Sobre o livro
No prefácio a um livro curioso da sua autoria, José Rodrigues Miguéis escreve: "até que ponto pode um escritor falar das suas experiências pessoais, sem incorrer na pecha de subjectivismo e sem ser indiscreto a respeito de si próprio? Será possível, nesta época e num meio como o nosso, avesso por tradição e preconceito à literatura de confissões, que tem enriquecido e ajudado a esclarecer tantas outras culturas, usar da franqueza de um Rosseau, de um Stendhal, de uma Bashkírtseva, para não dizer já de um De Quincey ou Baudelaire?"
A época a que Rodrigues Miguéis se refere podia também ser a nossa. O problema da confissão (se é realmente isso o que está em causa) mantém-se e será sempre um dos aperitivos preferidos da teoria da literatura. Ainda assim, talvez se insurja outro problema maior nos nossos tempos: a ficção deslumbrada consigo mesma, a ficção como conceito saturado, enquanto via profissionalizante, livre-trânsito do bom gosto, imitação da vida explicada como quem junta dois mais dois, sendo que o caso não se dá apenas em literatura.
Mas voltando a esta: talvez desta vez o autor se tenha cansado de escrever José disse ou Joaquina disse quando foi ele que disse e mais ninguém. Talvez nestes tempos de passamanes não valha muito a pena embelezar um caminho esburacado, quando apesar de tudo são esses buracos que ainda lhe dão um nome.