À espera da cheia?
Paradoxos da modificação do ambiente por via da tecnologia (TM 23)
de Delta Sousa e Silva
Sobre o livro
A presente investigação, concluída em 2002, incide sobre os factores antrópicos subjacentes a fenómenos naturais extremos, como sejam as cheias fluviais.
Não raras vezes a sociedade portuguesa naturaliza este tipo de eventos, facto que inibe qualquer identificação sistemática do que de inerente à acção
humana pode concorrer para a magnitude destes fenómenos.
Esta investigação alicerça-se num estudo de caso, corporizado numa bacia - a do Mondego - e nas primeiras grandes cheias ocorridas após a sua
regularização hidráulica e fluvial - as de Dezembro de 2000-Janeiro de 2001. O pós-desastre destes eventos ficou marcado pelo confronto de leituras várias,
sobressaindo a que lhes atribuía causas naturais e interpretava-os como eventos imprevisíveis e excepcionais. O questionamento de tal leitura constituiu
o ponto de partida para a pesquisa.
A desconstrução analítica destes eventos assenta num quadro teórico que discute a natureza da relação sociedade-ambiente no quadro da modernidade.
Paralelamente confrontam-se as diversas modalidades de controlo e gestão de cheias, postulando que na sua base estão diferentes conceptualizações de
risco e todas elas encerram limites e potencialidades.
A bacia do Mondego, tal como é hoje, exemplifica um tipo de modalidade de intervenção nos rios. Denominada de estrutural, esta modalidade assenta no
primado da engenharia aplicada à concepção de infra-estruturas hidráulicas para efeitos de controlo de cheias e aproveitamento multifacetado dos recursos
hídricos. Um dos limites deste tipo de modalidade consiste na situação paradoxal que pode suscitar. Esta corporiza-se na redução efectiva da probabilidade
de ocorrência de uma cheia, acompanhada do aumento da vulnerabilidade em relação risco residual devido à falsa sensação de segurança que suscita junto
de quem habita e gere o território.
Este estudo procura perceber até que ponto é que o Mondego vivia, à época das cheias, mergulhado neste paradoxo. Paralelamente, procura-se compreender
se as cheias de Dezembro 2000-Janeiro 2001 funcionaram enquanto janela de oportunidade na direcção de uma mais eficaz internalização do risco de cheia
no quadro da gestão do território e do sistema hidráulico do Mondego.
Descritores: Cheia / Rio Mondego / Bacia hidrográfica / Controlo de cheias / Previsão de cheias / Impacte ambiental / Impacte social / Risco acidental / Tese / PT