A Dimensão Fantástica na Obra de Eça de Queirós
de Maria do Carmo Castelo Branco de Sequeira
Sobre o livro
Ao longo de uma vida literária de mais de três décadas, Eça de Queirós foi sempre um escritor fascinado pelo novo, buscando avidamente descobrir inéditos horizontes de sensibilidade e de expressão estéticas, surpreendentes procedimentos estilísticos e originais formas de comunicação com os leitores (o grande público leitor, "que é no fim de tudo quem faz a arte", como afirma Eça). Sob essa busca do novo, porém, há veios poetológicos que percorrem longitudinalmente a sua obra e que se configuram como constantes da sua personalidade literária, do seu olhar sobre o mundo, da sua estesia e da sua escrita. Um desses veios, porventura o mais relevante, consiste no fantástico - modo insólito e perturbante de representar o homem e a vida, que lacera, subverte ou denega, sob o signo do humor ou da ironia, o paradigma da realidade social e culturalmente aceite.
Dos folhetins da Gazeta de Portugal às hagiografias, passando por O Mandarim e A Relíquia, a fantasia queirosiana constrói mundos possíveis anamorfóticos, grotescos, sublimes, espectrais, bárbaros e sinistros e reinventa visionariamente a semântica e a pragmática da língua portuguesa, produzindo esse "estilo povoado de metáforas" de que falava Batalha Reis.
O ensaio de Maria do Carmo Castelo Branco de Sequeira agora publicado é o primeiro estudo de conjunto da dimensão fantástica do mundo e do discurso ficcionais de Eça de Queirós e graças à coerência da sua fundamentação teórica e à subtileza, à inteligência e ao rigor da sua indagação hermenêutica, proporciona ao leitor um contributo valioso para o conhecimento de um universo imaginário que, mesmo sob o signo das poéticas realista e naturalista, acolhe fascinadamente esse espectro que, desde a segunda metade do século XVIII, assombra a literatura ocidental - o fantástico.