Sobre o livro
A Benefício de Inventário reúne, porventura, o mais significativo acervo de ensaios de Marguerite Yourcenar: sete tentativas para apreciar ou reapreciar os temas propostos, com uma preocupação dominante: a de, «de olhos abertos», não deixar por explorar qualquer linha interpretativa, qualquer hipótese que esse exame sugira.
Um estudo sobre a História Augusta, crónicas da Roma decadente que prefiguram as inquietações do nosso presente.
Dois estudos sobre o Renascimento: um acerca de Os Trágicos, de Agrippa d’ Aubigné, em que ressalta a intolerância e a crueldade do homem sob as formas de que se revestiram no século XVI; o outro, sobre Chenonceaux, evoca, ao fim dos séculos, a vida esgotada, frívola ou trágica dos seus privilegiados locatários.
Um ensaio sobre as Prisões Imaginárias, de Piranèse, essas estranhas obras-primas.
Finalmente, três ensaios dedicados a grandes nomes da literatura moderna: Selma Lagerloff, sem a qual se não perceberá a Lanterna Mágica de Bergman; Constantino Cavafy, poeta da Alexandria do dealbar do nosso século, obcecado pela noção do passado: o seu próprio e transgressivo passado amoroso e o prestigioso passado helenístico ou bizantino da grande cidade levantina. Finalmente, Thomas Mann, em cujo humanismo torturado Yourcenar surpreende imprevistos veios herméticos e alquímicos.
Como o título o indica, Marguerite Yourcenar não opõe aos seres ou às coisas um fácil cepticismo: a sua preocupação é o de os estimar pelo seu justo valor, com as suas qualidades e os seus defeitos intrínsecos.
Estes estudos, que se debruçam sobre o passado longínquo ou próximo, conduzem quase sempre a uma meditação sobre o presente ou o futuro imediato a que nenhum escritor dos nossos dias se pode furtar.
Jornal de Letras