A Arte da Memória
de Paulo Teixeira
Sobre o livro
Refere Fernando Pinto do Amaral a propósito de Inventário e Despedida, de Paulo Teixeira, in Público de 21-06-1991: «Ao abordar a escrita de Paulo Teixeira, tornou-se um hábito reflectir em torno do lugar que a poesia ocupa, num mundo talvez pouco propício às entregas emocionais ou subtilezas hermenêuticas que a sua leitura tantas vezes implica. Sem querer repetir-me excessivamente, diria, de qualquer modo, que a expressão poética se encontra hoje envolvida numa rede de cultura por entre cujos intrincados fios acabaram por se ir desgastando, ou pelo menos empalidecendo, duas ideias: primeiro, a que via no poeta o inspirado porta-voz de uma fala divina que obrigatoriamente o excedia; mais tarde, uma outra (própria de uma certa modernidade) que encarava a escrita sobretudo como um rigoroso ofício, um "trabalho" a que o poeta metia ombros com a meticulosidade de uma investigação linguística. É na intersecção entre estas duas perspectivas — e na tentativa de ultrapassagem de ambas — que surge alguém como Paulo Teixeira (n. 1962), cujo estilo tem sido considerado precisamente como um bom exemplo da situação histórica em que nos encontramos após a exaustão de alguns entusiasmos que moveram as vanguardas. O regresso a uma sensibilidade classicizante nota-se, por exemplo, na relativa regularidade estrófica, na pontuação e sintaxe convencionais ou na unidade que anima e estrutura a mensagem de cada poema. Além destes aspectos, a obra de Teixeira é igualmente marcada pela incorporação omnívora da tradição cultural do Ocidente, num processo que vai transferindo toda essa pluralidade para a "linguagem autista do poema" (p. 11) e faz de cada texto o privilegiado receptáculo de muitos eus a cujos mundos a poesia dá voz.»