Cidade das Imagens
de Isabel Cristina Pires
Sobre o livro
Porque é que se escreve poesia acerca de um museu? A resposta é simples: porque sim. Porque era imperioso que desse voz ao laço que estabeleci com cada uma das peças. Anjos, demónios, Virgens e Cristos, pedras e espaços e ângulos de luz, expressões humanas e desumanas que se foram perdendo e se foram encontrando, tudo necessitava de vir à luz. E escrever este livro foi a única maneira de ir apreendendo este acervo aqui e além, de o trazer comigo e de o partilhar com os outros.
Fora das igrejas e conventos, todas estas peças espantosas conservaram a identidade que as faz para sempre religiosas e humanas. Têm bem à vista a mão do artífice que as concebeu, e essa vibratilidade permanece neste edifício luminoso onde todo o pensamento é possível.
Foi essa liberdade, que caracteriza e descaracteriza aquilo que está dentro de qualquer museu, que me permitiu estes vários modos de escrever: não é nunca um olhar que sabe, mas um olhar que é sempre e só uma janela.
Isabel Cristina Pires
Isabel Cristina Pires conduz-nos num espaço com uma História Milenar – o Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra – importante no domínio das belas-artes e arqueologia, dotado com coleções de pintura, escultura, joalharia, ourivesaria e artes decorativas. Ao longo do seu sublime labor poético subverte o sentido atribuído à prática dos museus enquanto espaços de armazenamento dos objetos e obras representativas da história e dos movimentos culturais ou artísticos e permite que mergulhemos num templo das musas, repositório das oferendas e do trabalho dos artífices, museu que guarda momentos e instantes do passado – que a poeta reordena e ressignifica a partir de um olhar particular, íntimo e subjetivo em relação com a sua relevância histórica, social e artística. O MNMC é uma potencialidade em acervo, assume uma dimensão social integrado na premissa do território enquanto fenómeno vinculado às memórias de uma comunidade e os excelsos poemas de Pires trabalham e desvendam cada peça numa perspetiva de realização aspirada pelo eu lírico e colocadas em lugar que pertence à ordem do sagrado pela sua relevância histórica, pelos novos significados que lhe são atribuídos a partir da posição privilegiada que permite auto-questionar os limites da subjetividade. Desestabiliza as peças para as voltar a colocar no lugar, com imaginação e poder mágico, através de uma sucessão silábica que cativa como, aliás, acontece em todos os seus livros, sejam de poesia ou prosa. A ilustradora, Joana Santana, realiza um trabalho magnífico, outros “poemas”. Recomendo, vivamente, este livro, sempre agradável de (re)ler !