O Conto do Vigário
de António Bagão Félix e Fernando Pessoa
Sobre o livro
Mudam-se os tempos, mudam-se os contos-do-vigário. Mas, no essencial, mantém-se aquilo que os define:
«Já passaram oitenta anos desde que o O "Notícias" Ilustrado deu à estampa esta narrativa na vida do Vigário. Muito mudou, na circunstância, entenda-se. Os contos viraram euros, mas o conto ainda o é. Na essência. E o senhor Vigário, lavrador e ribatejano, de que nos fala Pessoa, metamorfoseou-se num ambiente de globalização e de exuberância tecnológica. É claro que continua a haver o vigário doméstico ou local, com uma métrica modestamente artesanal de enganar o parceiro. Mas a sofisticação da trapaça é agora universal, sem muros ou obstáculos.
Há os vigários tóxicos, os vigários prolixos e os vigários que passam entre os pingos da chuva. Seguramente todos nocivos. Há, também, os vigários políticos e eleitorais que prometem sem cumprir, para crédulos e votantes sempre disponíveis para recair no conto-do-vigário.
A própria linguagem amaciou a técnica do vigário. Não mente, limita-se a dizer uma inverdade. Não tem conflitos de interesses, antes está a tirar partido de uma sinergia. Não comete burlas, o que enfrenta, coitado, são imparidades. Não é aldrabão, assume-se como flexível. Tacticamente Individualista, diz que nada tem a ver com a vida dos outros, para que os outros o deixem à vontade na sua vida. Para ele, os fins justificam, sem pestanejar, qualquer meio».