A Viseira Do Camaleão
de Humberto Henriques
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Sobre o livro
A Viseira do Camaleão é livro de profunda revelação dos tormentos existenciais. Pode ser que jamais um livro tenha sido apresentado com tamanha capacidade de introspecção neste século, dentro do panorama de toda a literatura brasileira. Esta revelação do absurdo, por si só, já gera contrassenso. Mais absurdo ainda dizer que aqui estamos a lidar com o contrassenso do contrassenso, o desfile de personagens com nomes emblemáticos, alguns retirados de um verbo auxiliado por um substantivo ou mesmo por um verbo ajudado por um advérbio ou locução adverbial. Isso não faz do romance um mirabolante teatro de fantoches. Pelo contrário, o teatro de fantoches em que se espelha essa criação advém exatamente da existência da forma como ela é. Aqui a realidade deixa de ser um fato corriqueiro. É esse exatamente o estereótipo sobre o qual se está revelando mais um dos grandes romances brasileiros contemporâneos. Personagens fortes e bizarros, em toda a sua manifestação. Assim, Mário Estimo e Fábio Agonizo, dois personagens do romance, andam dentro dessa história e se põem por demais à vontade. As excelências comportamentais da vida, as ilusões decretadas por coisas pequenas e por prazeres mundanos, os vícios que acabam em apócopes e que não podem ser desgrudados das criaturas, tudo gira numa velocidade enorme – porém, com a virtual sensação de que tudo é lento e jamais vai mudar. Diante desse leque de acontecimentos, ruge a leveza da criação literária apurada.