O que lia Vincent Van Gogh?
Por: Sónia Rodrigues Pinto a 2020-03-30 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Apoderava-se dele uma necessidade, “ou, vamos antes dizê-lo, uma religião”, de sair à noite e pintar as estrelas. Vincent Van Gogh não poderia adivinhar que, duzentos anos depois, a sua noite estrelada permaneceria intemporal na história da arte. Paralelamente à pintura, o artista holandês era um grande apreciador de literatura. De acordo com o Van Gogh Museum, “durante os muitos contratempos que enfrentou, mais tarde, na sua vida, a literatura foi algo que o ajudou a continuar.” Numa das muitas cartas escritas ao seu irmão Theo, em 1881, o artista afirmou que “ler livros é como olhar para quadros: sem duvidar, sem hesitar, com autoconfiança, é preciso achar bonito aquilo que é belo.” Hoje, 30 de março, comemoramos o aniversário de Van Gogh partilhando algumas das suas leituras preferidas.
CHARLES DICKENS // CARIDADE
Theodorus Van Gogh, pai de Vincent, era um ministro protestante que, juntamente com a mulher, Anna Cornelia, educou os filhos para que tivessem um maior entendimento do certo e do errado e, como tal, recomendava-lhes que lessem obras que encorajassem um espírito moralista. Vincent escolhia livros populares na comunidade protestante, que enfatizassem a importância da caridade e da humanidade. O artista holandês lia e relia várias obras de Charles Dickens, nas quais é possível encontrar estes mesmos valores que ele tanto procurava. Para além de Um Cântico de Natal, era também apreciador de Tempos Difíceis.
JULES MICHELET // AMOR
Foi na obra de Jules Michelet que Vincent encontrou a plenitude que não conseguia personificar na sua vida amorosa. O artista holandês utilizou L'Amour, uma lição moral sobre o amor entre um homem e uma mulher, para justificar as suas escolhas e a forma como vivia a sua vida, desde a paixão que sentiu pela sua prima Kee Vos, ao momento em que viveu com Sien Hoornik, uma prostituta. Esta foi uma das maiores descobertas de Vincent em termos de leitura, considerando o livro de Jules Michelet uma espécie de “evangelho moderno”.
ÉMILE ZOLA // HONESTIDADE
Émile Zola e Vincent Van Gogh foram dois artistas que enraizaram o seu trabalho na realidade. O artista francês descreveu o quotidiano tal e qual como era vivido nas ruas parisienses e no meio operário – bem patente em obras como Nana. O Van Gogh Museum faz um paralelo entre ambos, uma vez que também Van Gogh queria pintar uma visão honesta daquilo que o rodeava. Da obra de Émile Zola, apreciada pelo pintor, destacam-se também L'Oeuvre e La joie de vivre.
ALPHONSE DAUDET // HUMOR
Em 1888, Vincent Van Gogh mudou-se para Arles. Este foi um dos períodos mais prolíficos da sua carreira, tendo completado mais de 200 quadros, bem como cerca de 100 desenhos e aguarelas. Ainda que nesta altura o seu gosto literário não tivesse mudado muito, Vincent procura agora obras humorísticas e satíricas. É nesta altura que descobre a obra de Alphonse Daudet, Tartarin de Tarascon, uma caricatura do francês do sul, que lhe permite encontrar semelhanças com a vida que leva no sul de França. “O humor da obra impressionou-o. Vincent acreditava que pouco acontecia, na sua era, que fosse verdadeiramente positivo, e que a arte era a única capaz de trazer algum consolo”.
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Piles of French Novels, de Vincent Van Gogh (1887).
OUTRAS LEITURAS DE VINCENT VAN GOGH
- A Bíblia, traduzida por Frederico Lourenço;
- The Eve of St. Agnes (1820), de John Keats;
- Scenes of Clerical Life (1857), de George Eliot;
- The Poetical Works of Henry Wadsworth Longfellow (1887), de Henry W. Longfellow;
- What the Moon Saw (1862), de Hans Christian Andersen;
- A Imitação de Cristo (1471-1472), de Thomas Kempis;
- Uncle Tom’s Cabin (1851-1852), de Harriet Beecher Stowe;
- Chérie (1884), de Edmond de Goncourt;
- Les Miserables (1862), de Victor Hugo;
- Le Père Goriot (1835), de Honoré de Balzac;
- Bel-Ami (1885), de Guy de Maupassant;
- Madame Chrysanthème (1888), de Pierre Loti;
- Cândido ou o Optimismo (1759), de Voltaire;
- Macbeth (c. 1606-1607), de Shakespeare;
- O Rei Lear (1606-1607), de Shakespeare.