"A Terra Inabitável" | O fim do mundo como o conhecemos
Por: Beatriz Sertório a 2020-04-22 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Numa altura em que os factos científicos são, frequentemente, descredibilizados, tem vindo a ganhar cada vez mais importância a insurgência de outras vozes (fora da comunidade científica e da esfera política) em relação aos assuntos que afetam o nosso futuro. Prova disso mesmo, é o impacto que figuras como a jovem ativista Greta Thunberg ou o ator Leonardo DiCaprio têm tido na sensibilização do público para a questão das alterações climáticas. Com A Terra Inabitável – Como vai ser a vida pós-aquecimento global, o jornalista norte-americano David Wallace-Wells junta a sua voz a este debate.
Para Wallace-Wells, o que ele chama de ’linguagem demasiado tímida das probabilidades científicas’ já não é suficiente - chegou a hora de entrarmos em pânico. Apresentando o que considera serem os “Elementos do Caos” – entre eles, a seca, a fome, a poluição do ar, as cheias ou os incêndios - o livro retrata o futuro apocalíptico que nos espera, caso não exista ação imediata. As consequências, diz, não são previsões para um futuro longínquo; estão já em curso e poderão atingir proporções catastróficas até ao final deste século.
Embora o futuro traçado em A Terra Inabitável pareça assustador, este não é totalmente desprovido de esperança. Após o abanão inicial (seguindo a máxima de Franz Kafka de que "[u]m livro tem de ser a picareta para o mar gelado dentro de nós"), são-nos apresentadas algumas soluções para aquilo que ainda podemos prevenir ou até mesmo reverter – entre elas, o imposto sobre o carvão e a supressão das energias poluentes, uma nova abordagem às práticas agrícolas, a eliminação da carne e dos lacticínios da dieta global, ou o investimento público em energias verdes.
Acima de tudo, o que Wallace-Wells faz é o mesmo que o astrónomo Carl Sagan, quando fez a sonda espacial Voyager virar-se para a Terra para captar uma última fotografia, após a sua viagem até Saturno. Daquela distância, a Terra não era mais que um pequeno ponto azul pálido, que obrigava a humanidade a reconhecer a sua pequenez. Fazendo nossas as palavras de Sagan: “Considerem novamente aquele ponto. É aqui. É a nossa casa. Somos nós. Nele, todos aqueles que amamos, todos os que conhecemos ou de quem ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas; (…) ali, num grão de poeira suspenso num raio de sol". Esse grão de poeira é a única casa que conhecemos e, se não agirmos depressa, seremos varridos dela, sem que o universo dê conta.