Os melhores livros de 2021
Por: Bertrand Livreiros a 2022-01-05 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Eleger os melhores livros de 2021 é sempre um exercício complexo e desafiante. Nos últimos tempos, a cultura tem desempenhado um papel (ainda mais) fundamental. A arte, nas suas mais diversas formas, tem sido uma poderosa arma para combater a solidão e a estranheza dos dias, sendo que o livro é particularmente eficaz a cumprir esse propósito.
Reunimos alguns dos títulos que, na nossa opinião, marcaram o ano de 2021. Entrar em 2022 a ler um destes livros é, garantidamente, entrar com o pé direito.
Integrado Marginal, Biografia de José Cardoso Pires; Bruno Vieira Amaral: José Cardoso Pires habitou-nos à mestria inconfundível da sua escrita, de um realismo e irreverência incomuns. O autor de A Balada na Praia dos Cães é um dos maiores vultos da literatura portuguesa do séc.XX e, nesta biografia, Bruno Vieira Amaral, ao abrir-nos a porta da sua vida, presta-lhe um justo e merecido tributo.
Memórias, Francisco Pinto Balsemão: Esta é uma viagem pela vida de uma das grandes figuras do Portugal moderno, antigo primeiro-ministro e fundador da televisão independente, Francisco Pinto Balsemão protagoniza uma história de mérito, rigor e intensidade.
O Homem do Casaco Vermelho, de Julian Barnes: A partir de um quadro exposto na National Portrait Gallery, Julian Barnes escreve a biografia de um enigmático médico ginecologista e cientista, Samuel Jean de Pozzi. Considerada pelo The Spectator “brilhante e provocadoramente original”, a história de O Homem do Casaco Vermelho não se foca apenas na figura do bon vivant: é também um retrato dos costumes e da sociedade da belle époque.
A História da China, Michael Wood: Michael Wood habituou os leitores à sua forma irrepreensível de contar histórias, tanto no grande ecrã, como nas páginas dos livros. A mais recente obra do autor britânico é uma verdadeira ode à civilização chinesa, uma viagem pela identidade de um povo, de uma nação, que ainda desperta muito mistério e algum preconceito no mundo ocidental. Wood, apesar de não ser nativo, retrata a China de forma sólida, desde os primórdios até à contemporaneidade, realçando os episódios mais marcantes da história.
Guerra, Margaret Macmillan: Um roteiro que assinala os conflitos armados mais marcantes da história da humanidade e que explora as várias faces da guerra, como uma componente indissociável da existência humana.
Génio e Ansiedade; Norman Lebrecht: Freud, Proust, Einstein e Kafka são algumas das figuras, de origem judaica, mais marcantes da História, que contribuíram para a construção do mundo tal como o conhecemos. Lebrecht explora neste livro a ideia de um subconsciente cultural coletivo, transversal a uma geração de pensadores, visionários e cientistas, que não partilham só a religião, mas também a genialidade.
Habsburgos, Martyn Rady: Um retrato daquela que foi uma dinastia global e uma das mais influentes famílias europeias. Esta é uma história sobre o poder e o declínio dos Habsburgos, mas também sobre a construção da Europa, desde as descobertas do novo mundo ao primeiro conflito armado. O Times Literary Supplemnet considera a obra “O melhor livro jamais escrito sobre os Habsburgos em qualquer língua”.
A Importância de Dante, John Took: Dante é um vulto incontornável da literatura mundial. No ano em que se assinalam 700 anos da morte do autor da Divina Comédia, o especialista em literatura italiana, John Took, lança a Importância de Dante como forma de celebrar o pensamento, a estética e, sobretudo, o imenso legado de Dante.
Vida, a Grande História, Juan Luís Arsuaga: A existência continua a ser alvo de uma infinidade de perguntas. Juan Luis Arsuaga tem dedicado a sua vida ao estudo da paleontologia e da evolução da espécie, tendo sido já amplamente distinguido pelas suas descobertas e avanços surpreendentes. Vida, A Grande História, sintetiza a teoria da evolução de Arsuaga, desde o aparecimento da primeira forma de vida na Terra, até aos nossos dias.
O Poder da Geografia, Tim Marshall: Tim Marshall, jornalista e especialista em relações internacionais, explica neste livro a relação entre política e território, desconstruindo alguns conceitos e ideias, utilizando uma linguagem muito acessível.
Economia de Missão, Mariana Mazzucato: Considerada uma das economistas mais importantes da atualidade, Mariana Mazzucato tem desenvolvido um trabalho notável na procura de uma alternativa para o capitalismo, bem como para estruturas económicas atuais. Nesta obra, apresenta uma nova teoria económica, inspirada no Programa Apollo, focada na redefinição das políticas público-privadas, na sustentabilidade e na inovação.
De noite, Todo o Sangue é Negro, David Diop: O mais recente romance de David Diop mostra-nos o processo de loucura de um soldado senegalês, obrigado a servir no exército francês. Um exercício de reflexão sobre a condição humana e sobre a devastação da guerra.
Síra, María Dueñas: Maria Dueñas dá continuidade à vida de Sira, personagem que conquistou o imaginário dos seus leitores há mais de dez anos, com o romance O Tempo Entre Costuras. Uma reviravolta inesperada obriga a costureira a procurar um novo caminho, repleto de aventuras e marcado pelo carisma e resiliência.
Olhar para trás, Juan Gabriel Vasquez: Olhar para Trás representa a linha ténue que separa a verdade e a verosimilhança, a realidade e a ficção. Juan Gabriel Vásquez constrói este romance a partir da história do seu amigo e compatriota Sérgio Cabrera, um cineasta perseguido por um passado sombrio, carregado de memórias de sacrifício e luta. Um romance considerado uma “obra-prima” pelo Booklist.
Cães maus não dançam, Arturo Pérez-Reverte: Um romance sobre o valor da lealdade, uma história comovente, com uma forte crítica à condição humana, à deturpação dos valores e à falta de carácter. Arturo Pérez-Reverte, à semelhança do que fez Padre António Vieira, no Sermão de Santo António aos Peixes, utiliza a figura dos animais para criticar os costumes dos homens e a forma pouco transparente como se relacionam entre si.
A Segunda Vida de Olive Kitteridge, Elizabeth Strout: Elizabeth Strout acumulou vários prémios com Olive Kitteridge, um romance centrado numa personagem intensa e singular, Olive, que apaixonou milhares de leitores à volta do globo e inspirou uma série da HBO. Em Segunda Vida de Oliver Kitteridge, a autora norte-americana dá um novo fôlego à vida da complexa, mas inesquecível, de Olive.
Mundo Belo, Onde Estás; Sally Rooney: Depois do impacto de Pessoas Normais, obra que inspirou a série homónima da HBO, lançada em 2020, Sally Rooney lança Mundo Belo, onde estás, sobejamente elogiado pela crítica. O The New York Times Book Review considerou-o “o melhor romance de Rooney até à data”.
Shuggie Bian, Douglas Bain: o romance de estreia de Douglas Bain, um sucesso de vendas e multipremiado, é o testemunho cru e emotivo do amor incondicional de um filho por uma mãe, uma lição de esperança que explora os contornos devastadores do vício. A história de Shuggie é inspirada na própria vida do autor, marcada pela relação conturbada com a mãe que, tal como a de Shuggie, travava uma luta contra o alcoolismo. Uma obra caracterizada pelo The Guardian, como sendo “de uma beleza e duradora”.
O País dos Outros, Leila Slimani: O novo romance da autora franco-marroquina, Leila Slimani, conta a história de Mathilde, uma mulher dividida entre duas culturas e entre o dever da família e a liberdade. É uma obra surpreendente e inspiradora, que explora o sentimento da não pertença, o desconforto de não ser parte de alguma coisa maior.
Almoço de domingo, José Luís Peixoto: É uma obra de afeto, um retrato de Portugal traçado a partir de uma das figuras que melhor representa a alma e o ADN português: Rui Nabeiro. Não sendo uma biografia, é uma representação justa de uma história de humildade e mérito, de uma vida preenchida de memórias. O realismo da escrita de José Luís Peixoto traz até aos leitores o cheiro e os sabores deste Almoço de Domingo.
As doenças do Brasil, Valter Hugo Mãe: O mais recente romance de Valter Hugo Mãe é uma viagem às origens do Brasil, um retrato delicado das cicatrizes de um povo que resistiu, durante séculos, à “fera branca”.
Silverview, John le Carré: Silverview é a obra póstuma de Carré, digna da mestria a que o autor nos habitou, esta história de espionagem explora os limites da experiência, da sabedoria de vida.
Anomalia, Hervé Le Tellier: Anomalia representa o encontro improvável entre romance o mistério, descrito pelo Le Figaro como sendo “Um page-turner eficaz, e ao mesmo tempo, literário”.
Mundo, Ana Luísa Amaral: Ana Luísa Amaral faz do texto, do poema, uma pintura da realidade, uma representação estática do movimento das sensações, da vida e do Mundo.
Notas sobre o luto, Chimamanda: Uma reflexão sobre os efeitos da ausência e do luto. A experiência de uma filha que perde subitamente o pai, transforma-se numa ode à vida e numa tentativa de pensar sobre a finitude. Neste ensaio, Chimamanda coloca várias questões pertinentes sobre a morte - ainda que não ofereça as respostas -, através de um diálogo íntimo, explorando o labirinto da perda.
A Máquina do ódio, Patrícia Campos Mello: A manipulação dos media, as fake news e o perigo das campanhas sustentadas por hate farms são, infelizmente, uma realidade subversiva, mas cada vez mais recorrente. Em A Máquina do Ódio, Patrícia Campos Mello denuncia esta tendência nefasta, alertando para urgência da transparência da informação.