O testemunho final de David Attenborough
Por: Beatriz Sertório a 2020-10-23 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Aos 94 anos, o naturalista britânico David Attenborough tem consciência de que a luta pela sobrevivência do nosso planeta está fora das suas mãos. Depois de uma carreira extremamente bem sucedida a ser a cara e a voz de inúmeros programas de televisão sobre História natural, e uma participação ativa em campanhas e projetos que apoiam a causa ambiental, poderia cruzar os braços e delegar essa responsabilidade às novas gerações, sabendo que deixou a sua marca neste planeta. No entanto, David não está ainda preparado para desistir dessa luta.
Tendo nascido em 1926, teve a sorte de viver numa altura em que muita da biodiversidade da Terra ainda estava por descobrir. Desde 1950, altura em que começou a trabalhar como locutor de televisão, viajou pelo mundo inteiro e maravilhou-se com paisagens e espécies de animais até então largamente desconhecidas, que deu a conhecer a espetadores de todo o mundo.
Para si, a realização destes documentários era não só uma oportunidade de apresentar a incrível biodiversidade do planeta ao público, mas também de o educar acerca da extrema importância da sua preservação. Na sua opinião, "para a vida prosperar neste planeta, tem de existir uma imensa biodiversidade. Só quando milhares de milhões de organismos conseguem tirar o máximo partido de cada recurso e oportunidade que encontram, e só quando milhões de espécies vivem vidas que se interligam de modo a sustentarem-se umas às outras é que o planeta pode funcionar com eficiência. Quanto maior for a biodiversidade, mais segura será toda a vida na Terra, incluindo nós próprios".
David Attenborough em 1956, numa das suas primeiras expedições.
Contudo, ao longo da sua vida, viu as ações dos seres humanos comprometerem de forma preocupante a existência dessa biodiversidade, razão pela qual decidiu dedicar-se ao ativismo ambiental. Para além do trabalho próximo com organizações que promovem esta causa, aderiu, recentemente, ao instagram, para tentar chegar ao público mais jovem, e escreveu um livro dedicado ao assunto. Uma vida no nosso planeta já está disponível, em pré-venda, e inspirou um documentário produzido pela Netflix com o mesmo título, já disponível na plataforma de streaming. Neste, o autor e ambientalista lança o alerta: "o modo como nós, seres humanos, vivemos hoje na Terra está a colocar a biodiversidade em declínio. O mundo natural está a desaparecer aos poucos. As provas estão por toda a parte. Aconteceu durante a minha vida. Eu vi com os meus próprios olhos. E irá levar à nossa destruição."
Escrito no tom acessível e envolvente a que Attenborough já nos habituou nos seus muitos anos de carreira na televisão, este é um livro com uma mensagem urgente para a nossa geração e para as gerações vindouras, e um apelo à ação para evitarmos aquele que é o maior perigo que enfrentamos no nosso século: o declínio em espiral da biodiversidade do nosso planeta. Acima de tudo, é um apelo para não baixarmos os braços, ainda que pareça tarde demais, pois como explica o autor: "ainda há tempo para desligar o reator. Existe uma boa alternativa. Este livro é a história de como chegámos aqui, do nosso grande erro e de como, se agirmos já, podemos corrigi-lo."
Assista ao trailer do documentário Uma vida no nosso planeta.