Dois Poemas de Pedro Eiras
Por: Bertrand Livreiros a 2022-05-11 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa
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Paraíso encerra o tríptico iniciado com Inferno (2020) e Purgatório (2021), três livros de poemas em torno da obra-prima de Dante Alighieri. Neste último volume, assistimos à barbárie dos homens, ao anúncio do fim dos tempos, mas um apelo persiste nos últimos cantos, onde a poesia dos grandes mestres é convocada para ascender às últimas esferas do céu.
Mas se os anjos abrem os livros,
burocráticos,
com a pena em riste,
e a tinta vermelha,
irrevogável,
a riscar cada corpo
deste mundo desolado
(com tão justa causa,
que só peca por tardia),
por mim, escolheria
esta pequena sombra
para meu advogado.
***
A invenção do direito começa
na atribuição de um advogado
às causas desesperadas.
E todas as causas são a partida
desesperadas, se os anjos
quebram selos, citam datas,
o negativo dos nossos gestos,
e omissões.
Mesmo assim, podemos pedir
um advogado, mesmo se não temos
com que pagar,
nós,
despidos
até ao osso,
cobrindo em vão
nossas vergonhas.
Pedro Eiras, in Paraíso