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O Último Banqueiro
Poucas vezes um banqueiro teve tanta influência sobre os destinos de um
país como Ricardo Salgado. Ao longo de 20 anos, em todas as
legislaturas, o BES foi o banco mais próximo do poder político - e o que
mais benefícios colheu da máquina do Estado. Sucederam-se os partidos,
mas todos os governantes serviram o líder do clã Espírito Santo ou foram
por ele servidos. Mas o "O Último Banqueiro", que sobreviveu à queda da
Monarquia, a uma ditadura e a uma revolução caiu como uma maçã podre
- vítima dos erros próprios, e de uma economia agonizante. Ricardo
Salgado demitiu-se no dia 20 de Junho de 2014. A data pouco importa, era
uma morte anunciada. O BES tinha atingido o zénite da influência com o
governo Sócrates, mas não resistiu à crise - e teve de ser o próprio
banqueiro a empurrar o país para os braços da troika. Com ela tornou-se
muito mais rigoroso o escrutínio à banca; e chegaram dois ministros sem
partido, Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira, pouco complacentes. As
regras tinham mudado. E as antigas guerras de Salgado começaram a
causar danos. Álvaro Sobrinho, o seu delfim, abriu uma frente de batalha
mediática, expondo as fragilidades do grupo em Angola; a luta pelo
controlo da Semapa, criou em Pedro Queiroz Pereira um inimigo terrível, e
a vingança deste foi pôr a nu as fragilidades do banco.
O BES, que esteve envolvido na maioria das PPP e privatizações (da
Petrogal/Galp à ANA), que tinha participações estratégicas na PT e na
EDP, que teve papel de relevo nas maiores OPAs e aquisições jamais
feitas em Portugal, conhecia o outro reverso da medalha.