Margarida de Castro Ferreira
Biografia
Quando se conheceram, Maria da Luz era estagiária de enfermagem e António Maria médico no Hospital do Rego.
Foi em Janeiro de 1948.
(O António)tem uns olhos bonitos. Descobri isso hoje de manhã, numa ocasião em que êle olhou para mim por acaso, e eu olhei para êle, sem ser por acaso… São escuros, castanhos, parece-me, muito meigos, muito doces, uns olhos em que a gente sente que pode confiar, em que a gente "mergulha sem nunca dar com o fundo". (28 Janeiro 1948)
Começaram namoro em Fevereiro, numa festa de Carnaval . Casaram no ano de 1949 e em meados de 50 rumaram a Angola onde se encontrava o pai de António – também António Maria e também médico – transferido, desde Moçambique onde vivera 30 anos, como Inspector dos Serviços de Saúde e Director do Hospital de Malanje.
Foi em Janeiro de 1948.
(O António)tem uns olhos bonitos. Descobri isso hoje de manhã, numa ocasião em que êle olhou para mim por acaso, e eu olhei para êle, sem ser por acaso… São escuros, castanhos, parece-me, muito meigos, muito doces, uns olhos em que a gente sente que pode confiar, em que a gente "mergulha sem nunca dar com o fundo". (28 Janeiro 1948)
Começaram namoro em Fevereiro, numa festa de Carnaval . Casaram no ano de 1949 e em meados de 50 rumaram a Angola onde se encontrava o pai de António – também António Maria e também médico – transferido, desde Moçambique onde vivera 30 anos, como Inspector dos Serviços de Saúde e Director do Hospital de Malanje.
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Cartas de Portugal em (e de) África
Malange, 27 Junho, 1950
(...) Teremos casa, também, segundo me consta pintada dentro e fora ao gôsto do indígena em tons vivíssimos de azul, côr de rosa e verde, água corrente e clima razoável; eletricidade é que não, mas paciência. Parece que o António terá uma avença das Companhias do Algodão que lá têm plantações, e se a área fôr designada "de sono" - há tsé-tsés e casos de infecção em pretos - mais 3.000$ entram por mês e tempo de serviço contado a dobrar para fins de reforma e promoção. O panorama, como podem ver, não é nada mau e com um pouco de sorte a vida arranjar-se-á razoavelmente. Aqui em Malange, onde estou há três semanas ficaremos em casa dos meus sogros, apesar da falta de espaço; é de espantar a "pelintrice" reinante sobretudo no que respeita a Serviços de Saúde. (...)
Fiquei abismada com o nível de vida e civilização dos negros; teoricamente, a Escravatura foi abolida no tempo do Sr .D. Luis I, e todos os habitantes das colónias, independentemente da raça ou religião, são cidadãos portugueses, livres e com os mesmos direitos. No entanto a pratica difere um tanto da teoria. E logo em S.Tomé os roceiros, senhores absolutos da ilha, contra quem nem o Governador tem poder, mantêm os tradicionais princípios e normas, que vêm no negro um animal de trabalho, só. Segundo me disse um funcionário altamente colocado no Ministério das Colónias, é costume, ainda, castigar os trabalhadores, enterrando-os vivos. Mas as coisas não ficam por aqui, podem crer. Em Angola a situação está revestida de um "verniz" superficial - tudo se faz mais discretamente mas há muita patifaria, louvado Deus, e é desoladora a situação verdadeiramente miserável em que estão os pretos.
(...) Teremos casa, também, segundo me consta pintada dentro e fora ao gôsto do indígena em tons vivíssimos de azul, côr de rosa e verde, água corrente e clima razoável; eletricidade é que não, mas paciência. Parece que o António terá uma avença das Companhias do Algodão que lá têm plantações, e se a área fôr designada "de sono" - há tsé-tsés e casos de infecção em pretos - mais 3.000$ entram por mês e tempo de serviço contado a dobrar para fins de reforma e promoção. O panorama, como podem ver, não é nada mau e com um pouco de sorte a vida arranjar-se-á razoavelmente. Aqui em Malange, onde estou há três semanas ficaremos em casa dos meus sogros, apesar da falta de espaço; é de espantar a "pelintrice" reinante sobretudo no que respeita a Serviços de Saúde. (...)
Fiquei abismada com o nível de vida e civilização dos negros; teoricamente, a Escravatura foi abolida no tempo do Sr .D. Luis I, e todos os habitantes das colónias, independentemente da raça ou religião, são cidadãos portugueses, livres e com os mesmos direitos. No entanto a pratica difere um tanto da teoria. E logo em S.Tomé os roceiros, senhores absolutos da ilha, contra quem nem o Governador tem poder, mantêm os tradicionais princípios e normas, que vêm no negro um animal de trabalho, só. Segundo me disse um funcionário altamente colocado no Ministério das Colónias, é costume, ainda, castigar os trabalhadores, enterrando-os vivos. Mas as coisas não ficam por aqui, podem crer. Em Angola a situação está revestida de um "verniz" superficial - tudo se faz mais discretamente mas há muita patifaria, louvado Deus, e é desoladora a situação verdadeiramente miserável em que estão os pretos.