João Evangelista Rodrigues

Mutação dos Barcos é o resultado final foi fruto de uma recusa e de uma imersão corporal e uma comunhão espiritual com os elementos exóticos que compõem a região amazônica, particularmente o Rio Madeira, na altura da cidade de Porto Velho, capital de Rondônia. Após trinta e três anos de sua primeira edição, sinto que Mutação dos Barcos continua vivo e, de certa forma, mais atual, considerando a gravidade das questões ambientais e os problemas políticos que afetam aquela região. Entretanto, é necessário que o leitor fique atento ao se aproximar deste mundo de palavras/imagens. Que o leia não apenas com a razão, mas sobretudo com o coração. Claro está que o livro Mutação dos Barcos, a despeito de pequenas modificações sofridas nesta nova edição, não se trata de mais um livro romântico, sobre ecologia. Quer ser mais que o registro de uma viagem, de uma vivência pessoal, ainda que poeticamente experimentada. O rio e eu, em constante mutação, continuamos os mesmos, como ensinou Heráclito. Ambos atravessamos o caos em busca da harmonia cósmica, que só a utopia do poema, morada da poesia pode garantir a existência e a sobrevivência poética, essência da humanidade.