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Diálogo Entre a Vida, Deus e o Esteves e Outros Diálogos
A minha obra, simplesmente, é uma anti-obra, escrita por alguém que não existiu. Um eu forjado por um dom dado, o eterno dom de sonhar. Só assim, deste modo, seria possível ser criado o que quer que fosse. Se algo a obra tem de seu, é tudo o que, em circunstâncias normais, nunca poderia ter sido erguida, nunca poderia sequer ser algo. Assim, tal como a própria obra em si, os respectivos personagens são produto de uma não-realidade, uma realidade exterior ao nome que possam vir a ter. São produto da capacidade produtiva para criar, somente criar o que já foi criado. Ou seja, a sua existência já existia. A única criação exterior a essa já concebida, foi a maneira como, irreais, essas personagens se diluíram da essência que as assemelha: a criação do sonho. Todos esses personagens têm vidas próprias dentro deles, vidas que dariam uma mútua realização do seu mundo, o mundo do real, em que o Homem está muito longe de vir literalmente a conhecer, literalmente a desvendar. Todos eles dariam, certamente, matéria de investigação para muitos bons e largos anos, cada um na sua própria contingência, na sua própria índole onírica. Todos são parte integrante de um eu disperso, um eu vário, resumido numa unidade elementar. Um eu múltiplo, como o Universo.
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